Abrimos o celular, rolamos a tela e, em poucos segundos, somos inundados por imagens de vidas que parecem perfeitas. Corpos esculpidos, viagens de sonho, relacionamentos sem falhas, sucesso profissional e pessoal em doses generosas. As redes sociais se transformaram em vitrines do que seria o “ideal” — mas será que aquilo que vemos é realmente possível?
Entre o ideal, o idealizado e o real existe uma distância que, muitas vezes, nos adoece. O ideal é aquilo que nos move: um objetivo, um horizonte que pode ser alcançado com esforço e escolhas conscientes. Já o idealizado é o exagero, a versão distorcida, criada para caber em filtros e narrativas que alimentam a ilusão de perfeição. E, por fim, o real é aquilo que nos constitui de verdade: nossas marcas, nossos limites, nossa humanidade.
O problema é que, diante da enxurrada de representações sociais construídas no ambiente digital, passamos a comparar o nosso real com o idealizado do outro. É nesse abismo que nascem sentimentos de frustração, inadequação e a dolorosa sensação de não ser suficiente. A busca por aceitação e por pertencimento, quando guiada por padrões inatingíveis, abre espaço para ansiedade, baixa autoestima e até quadros depressivos.
É preciso lembrar: ninguém posta os dias em que se sente perdido, os fracassos silenciosos ou os medos que não cabem em uma legenda bonita. As redes sociais são recortes — e não espelhos da vida real. Quando esquecemos disso, corremos o risco de viver tentando caber em molduras que não foram feitas para nós.
Cuidar da saúde mental é, também, resgatar o contato com a própria singularidade. É permitir-se ser real em meio ao excesso de idealizações. É reconhecer que a beleza da vida não está em se encaixar em padrões, mas em sustentar nossa existência de forma autêntica e possível.
Daniel Nascimento – Psicólogo CRP 03/32350





