sábado, 6 de setembro de 2025

O Ideal, o Idealizado e o Real: Como as Redes Sociais Podem Adoecer Nossas Relações com Nós Mesmos





Abrimos o celular, rolamos a tela e, em poucos segundos, somos inundados por imagens de vidas que parecem perfeitas. Corpos esculpidos, viagens de sonho, relacionamentos sem falhas, sucesso profissional e pessoal em doses generosas. As redes sociais se transformaram em vitrines do que seria o “ideal” — mas será que aquilo que vemos é realmente possível?


Entre o ideal, o idealizado e o real existe uma distância que, muitas vezes, nos adoece. O ideal é aquilo que nos move: um objetivo, um horizonte que pode ser alcançado com esforço e escolhas conscientes. Já o idealizado é o exagero, a versão distorcida, criada para caber em filtros e narrativas que alimentam a ilusão de perfeição. E, por fim, o real é aquilo que nos constitui de verdade: nossas marcas, nossos limites, nossa humanidade.


O problema é que, diante da enxurrada de representações sociais construídas no ambiente digital, passamos a comparar o nosso real com o idealizado do outro. É nesse abismo que nascem sentimentos de frustração, inadequação e a dolorosa sensação de não ser suficiente. A busca por aceitação e por pertencimento, quando guiada por padrões inatingíveis, abre espaço para ansiedade, baixa autoestima e até quadros depressivos.


É preciso lembrar: ninguém posta os dias em que se sente perdido, os fracassos silenciosos ou os medos que não cabem em uma legenda bonita. As redes sociais são recortes — e não espelhos da vida real. Quando esquecemos disso, corremos o risco de viver tentando caber em molduras que não foram feitas para nós.


Cuidar da saúde mental é, também, resgatar o contato com a própria singularidade. É permitir-se ser real em meio ao excesso de idealizações. É reconhecer que a beleza da vida não está em se encaixar em padrões, mas em sustentar nossa existência de forma autêntica e possível.


Daniel Nascimento – Psicólogo CRP 03/32350

terça-feira, 19 de agosto de 2025

A era da comparação: como as redes sociais moldam nosso ideal de vida

Vivemos em um tempo em que a vida parece caber em uma tela. As redes sociais transformaram-se em vitrines onde exibimos momentos escolhidos, muitas vezes cuidadosamente editados para transmitir um ideal. Mas será que o que vemos corresponde ao que é vivido



Por Daniel Nascimento Psicólogo CRP 03/32350

Vivemos em um tempo em que a vida parece caber em uma tela. As redes sociais transformaram-se em vitrines onde exibimos momentos escolhidos, muitas vezes cuidadosamente editados para transmitir um ideal. Mas será que o que vemos corresponde ao que é vivido?


Na psicologia, falamos sobre o self verdadeiro e o self falso. O verdadeiro é aquele que nasce da espontaneidade, da autenticidade, do que realmente sentimos e desejamos. Já o falso self é construído para atender expectativas externas, agradar e, muitas vezes, se proteger de julgamentos.


Quando passamos horas navegando em perfis que parecem perfeitos, corremos o risco de transformar nosso próprio ideal de vida em uma comparação constante. Surge o que chamamos de ideal idealizado – uma versão de nós mesmos que nunca é suficiente, porque sempre há alguém “melhor”, “mais bonito”, “mais bem-sucedido”. E, nesse jogo, nos afastamos do real: daquilo que somos, com nossas vulnerabilidades, imperfeições e também com nossas singularidades.


O convite, então, é para um exercício de mindfulness: observar sem julgar, estar presente, valorizar o que é verdadeiro. Quando conseguimos reconhecer a diferença entre o real e o ideal idealizado, damos espaço para um olhar mais compassivo sobre nós mesmos e sobre o outro.


Talvez o que falta não seja seguir mais perfis, mas nos seguir de verdade.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Representações sociais no carnaval e no funk: herança da colonização portuguesa

A teoria das representações sociais nos permite compreender como imagens, narrativas e crenças são construídas e transmitidas ao longo da história, moldando a forma como uma sociedade enxerga a si mesma. No Brasil, um exemplo




 A teoria das representações sociais nos permite compreender como imagens, narrativas e crenças são construídas e transmitidas ao longo da história, moldando a forma como uma sociedade enxerga a si mesma. No Brasil, um exemplo claro está no modo como o carnaval é narrado e vivido.


Desde a chegada dos portugueses, ainda no período colonial, criou-se uma representação marcada pela exploração e pela imposição de padrões culturais e sexuais. Os relatos históricos, muitas vezes escritos pelos colonizadores, descreviam os povos indígenas como polígamos, reduzindo-os a estereótipos e naturalizando a ideia de que “dividiam suas mulheres” com os estrangeiros. Essa narrativa, carregada de distorções, servia para legitimar a violência sexual contra as indígenas, invisibilizando a dor e a opressão a que eram submetidas.


Essas representações, construídas e reforçadas ao longo dos séculos, ainda ecoam na forma como o corpo — especialmente o corpo feminino — é explorado e exposto nas festas populares, em especial no carnaval. Se antes a justificativa estava na suposta “liberdade sexual” indígena, hoje se vê a mesma lógica em discursos que associam a festa exclusivamente à permissividade, ao excesso e à objetificação.


Esse mesmo fenômeno pode ser observado nas festas contemporâneas, como os paredões e os bailes funk. Embora sejam manifestações culturais legítimas das periferias, espaços de resistência e sociabilidade, também sofrem com a representação social que reduz suas expressões à violência, ao tráfico e à hipersexualização dos corpos. Tal como ocorreu na narrativa colonial sobre os indígenas, essas festas são vistas por um viés que reforça estigmas, invisibilizando sua potência cultural e comunitária.


O carnaval, os paredões e o baile funk são expressões populares de identidade e pertencimento, mas frequentemente capturados por uma lógica que repete padrões coloniais de exploração. A crítica que se impõe é a necessidade de romper com essas representações sociais que perpetuam desigualdades de gênero, classe e raça, reconhecendo que por trás da folia e do som alto também há história, resistência e dignidade.


Refletir sobre essas manifestações é compreender que elas não devem ser reduzidas a estereótipos herdados do período colonial, mas ressignificadas como espaços de celebração da diversidade, da cultura e da vida em comunidade.



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Entre o real e o ideal: o desafio de ser na era das redes

Vivemos um tempo em que a imagem muitas vezes vale mais que a experiência, e as redes sociais se tornaram vitrines onde exibimos não apenas momentos, mas versões cuidadosamente editadas de nós mesmos. A teoria da representação social nos lembra que a forma como nos percebemos e como queremos ser percebidos é moldada pelo olhar coletivo — e, na contemporaneidade



 



Por Daniel Nascimento -Psicólogo CRP 03/32350.

Vivemos um tempo em que a imagem muitas vezes vale mais que a experiência, e as redes sociais se tornaram vitrines onde exibimos não apenas momentos, mas versões cuidadosamente editadas de nós mesmos. A teoria da representação social nos lembra que a forma como nos percebemos e como queremos ser percebidos é moldada pelo olhar coletivo — e, na contemporaneidade, esse olhar é amplificado a cada curtida, comentário e compartilhamento.


Nesse cenário, o “self ideal” — quem acreditamos que deveríamos ser — e o “self idealizado” — a persona que mostramos para atender expectativas sociais — ganham força. Muitas vezes, o “falso self” se sobrepõe ao verdadeiro, numa tentativa de encaixe, reconhecimento e validação. O preço disso é alto: distanciamento interno, ansiedade e a sensação constante de insuficiência.


O mindfulness surge como um antídoto para esse ciclo. Ao nos colocar no presente, com atenção plena e sem julgamento, ele nos ajuda a perceber quando estamos vivendo para sustentar uma imagem em vez de habitar a própria essência. Ele nos lembra que o “real” não precisa ser perfeito para ser valioso, e que a autenticidade, embora menos “instagramável”, é profundamente libertadora.


Na era das redes, praticar mindfulness é um ato de resistência. É escolher estar inteiro em vez de estar apenas visível. É cultivar um olhar gentil para si, capaz de integrar o que somos, o que sonhamos ser e o que mostramos ao mundo — sem perder de vista que, antes de qualquer filtro, somos humanos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A música, um espelho da cultura e um termômetro social.

A música sempre foi um espelho da cultura e um termômetro social. Filósofos como Theodor Adorno e Friedrich Nietzsche destacaram que os sons, ritmos e letras que predominam em uma época não apenas refletem a realidade, mas também moldam valores e comportamentos coletivos.



 



A música sempre foi um espelho da cultura e um termômetro social. Filósofos como Theodor Adorno e Friedrich Nietzsche destacaram que os sons, ritmos e letras que predominam em uma época não apenas refletem a realidade, mas também moldam valores e comportamentos coletivos. No cenário atual, alguns movimentos musicais, como o “bile funk” e os “paredões”, chamam atenção por seu forte apelo popular, mas também por carregarem, em determinados contextos, mensagens que fazem apologia ao tráfico e promovem a glamorização do crime.

Essa exaltação de figuras criminosas, armas, drogas e estilos de vida associados à violência, quando repetida e consumida de forma massiva, contribui para a naturalização dessas condutas e para a construção de um imaginário social que associa poder e prestígio à criminalidade. Sob a perspectiva psicológica, é preciso compreender que a música possui um impacto profundo sobre a formação da identidade, especialmente entre jovens em situação de vulnerabilidade, influenciando escolhas, expectativas e modos de se relacionar com o mundo.

Isso não significa negar o valor cultural da música periférica ou silenciar a expressão artística de comunidades historicamente marginalizadas. Pelo contrário, é fundamental distinguir o papel de denúncia e resistência social de letras que retratam a realidade, daquelas que romantizam e legitimam práticas criminosas. A psicologia, aliada a ações educativas e culturais, pode contribuir para abrir espaços de reflexão crítica, incentivando produções musicais que expressem a potência criativa das comunidades sem reforçar ciclos de violência.

Daniel Nascimento – CRP 03/32350
Psicólogo Clínico | Psiconterapia.com.br

sábado, 9 de agosto de 2025

Nos últimos anos, vemos um fenômeno preocupante: crianças vivendo e se comportando como pequenos adultos. Esse processo, chamado de adultização, vem acontecendo cada vez mais cedo, e a internet tem sido um dos principais catalisadores desse movimento



 

Adultização das crianças: perigos da internet e o papel dos pais


Por Daniel Nascimento – Psicólogo CRP03/32350.


Nos últimos anos, vemos um fenômeno preocupante: crianças vivendo e se comportando como pequenos adultos. Esse processo, chamado de adultização, vem acontecendo cada vez mais cedo, e a internet tem sido um dos principais catalisadores desse movimento.


A lógica das redes sociais e da exposição online coloca as crianças diante de conteúdos, linguagens e padrões de comportamento que não correspondem à sua fase de desenvolvimento. Elas passam a imitar poses, falas e estilos que são próprios do mundo adulto, mas sem ter estrutura emocional para lidar com as consequências disso.


A partir da perspectiva da psicanálise winnicottiana, entendemos que a infância é uma fase fundamental para a construção do verdadeiro self — aquele núcleo autêntico, formado na relação saudável com figuras cuidadoras. Quando uma criança é pressionada, de forma explícita ou sutil, a pular etapas para atender expectativas adultas, ela pode acabar desenvolvendo um falso self: uma máscara para se adaptar ao ambiente, mas que esconde fragilidades internas.


A internet, quando usada sem supervisão, acelera esse risco. É como colocar uma criança numa festa de adultos sem um responsável por perto: ela será exposta a conversas, imagens e valores que não consegue compreender, e poderá tentar reproduzir tudo isso para "pertencer".


Por isso, o papel dos pais e responsáveis é indispensável. Não se trata de proibir totalmente, mas de mediar. Estar presente significa acompanhar o que a criança consome, conversar sobre o que vê, explicar limites e, principalmente, oferecer um espaço seguro para que ela possa ser criança. Isso inclui tempo offline, brincadeiras, convivência familiar e um ambiente afetivo que permita experimentação sem pressões precoces.


Proteger a infância não é atraso, é cuidado. Cada fase da vida tem seu tempo — e respeitar esse tempo é dar à criança a chance de crescer com mais saúde emocional, fortalecendo seu verdadeiro self e evitando que se perca em um mundo que, muitas vezes, exige dela muito mais do que deveria.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Solidão Moderna e a Falsa Liberdade: Por que estamos cada vez mais conectados e mais vazios?

Na última semana, as redes sociais foram inundadas com debates sobre a "liberdade de estar só" versus a necessidade de "pertencer a algo". Influenciadores romantizam a ideia de independência emocional, enquanto





Solidão Moderna e a Falsa Liberdade:


Por Daniel Nascimento -  psicólogo e psicanalista crp 03 32350. 

Vivemos em uma era de conexões instantâneas, onde uma mensagem atravessa continentes em segundos e os “stories” mostram mais do que palavras poderiam dizer. Ainda assim, nunca estivemos tão sozinhos. A solidão, hoje, não é a ausência do outro, mas a ausência de sentido nas relações.


Na última semana, as redes sociais foram inundadas com debates sobre a "liberdade de estar só" versus a necessidade de "pertencer a algo". Influenciadores romantizam a ideia de independência emocional, enquanto milhares desabafam em comentários sobre o vazio que sentem mesmo rodeados de pessoas. E isso nos faz pensar: será que estamos vivendo ou apenas sobrevivendo?


Como psicólogo e psicanalista, percebo diariamente em consultório o quanto essa solidão disfarçada de autonomia tem adoecido pessoas. São adultos que cresceram ouvindo que sentir é fraqueza, que amar demais é dependência e que vulnerabilidade é algo a esconder. Mas não é. Vulnerabilidade é o que nos torna humanos.


O problema não é estar só — o problema é não conseguir se escutar. É viver em modo automático, buscando validação em curtidas e esquecendo do principal: o contato com a própria verdade.


A psicanálise não oferece fórmulas prontas, mas nos convida a mergulhar nesse silêncio interno, a acolher o que dói, o que foi reprimido e até o que julgamos não merecer. E a partir desse encontro, reconstruir formas mais saudáveis de se relacionar com o outro — e consigo mesmo.


Se você se identificou com esse texto, respire fundo. Não está sozinho. Há caminhos, há escuta, há acolhimento. E mais do que tudo, há esperança.






🧠 Quer refletir mais sobre isso? No meu Instagram @psi_danielnascimento, compartilho diariamente conteúdos que falam de afeto, escuta e saúde mental. Te espero por lá.



O Ideal, o Idealizado e o Real: Como as Redes Sociais Podem Adoecer Nossas Relações com Nós Mesmos

Abrimos o celular, rolamos a tela e, em poucos segundos, somos inundados por imagens de vidas que parecem perfeitas. Corpos esculpidos, v...